Que a era digital mudou a forma das pessoas se relacionarem e domina a comunicação já é senso comum. A questão que permanece em pauta é como precificar os negócios que circulam na internet. Apesar da relevância, o meio digital continua respondendo por apenas 4% do bolo dos investimentos publicitários no Brasil. Na semana passada, o assunto voltou à pauta de discussões com a divulgação dos primeiros resultados da iniciativa do megaempresário de mídia Rupert Murdoch, que no começo do mês resolveu cobrar pelo acesso do jornal britânico The Times.O início da cobrança refletiu na queda de 66% dos acessos, segundo pesquisa divulgada pelo também inglês Financial Times. Embora negativo, é bem inferior aos 90% de queda estimado. A experiência é acompanhada com atenção pelo setor, porque pode indicar um caminho para melhorar as receitas das publicações em geral.
Ao mesmo tempo, ganhou força no meio publicitário a discussão sobre a adoção pela internet do padrão de mensuração de resultados usado pela TV. O chamado GRPs (Gross Rating Points) tem a pretensão de projetar alcance e frequência da audiência. Ocorre que esse modelo não contempla a interação permitida pela web, dado tido por muitos como essencial.
Walter Longo, vice-presidente da agência Young & Rubicam e estudioso das relações de comunicação na internet, acredita que a precificação desse ambiente não é o que vai tornar o negócio rentável. “As empresas não vão ganhar dinheiro com ‘armas’ digitais, mas sim com ‘alma’ digital”, prega Longo.
A frase de efeito sintetiza a discussão. Não dá para cobrar pela veiculação de publicidade nos moldes tradicionais, acredita o executivo. “As áreas de marketing passam por transformações profundas que vão além da utilização de ferramentas tecnológicas e exigem que se pense com uma mente digital”, diz. “Hoje, o marketing nas companhias que já compreenderam essa lógica, como Apple e Nike, está mais ágil e conectado ao mundo. Antes, buscava-se a perfeição no lançamento de um produto. Agora produtos e serviços vão sendo aperfeiçoados no processo e até consumidores colaboram. ”
Na área de venda de serviços de marketing, surgem as redes de sistemas colaborativos de gestão de talentos, como, por exemplo, a rede online Crowdspring de designers, onde uma empresa pode contratar o desenho de um logo para um universo sem fim de colaboradores especialistas no tema. “A interação é essencial no mundo online”, diz Longo.
Cobrar ou não pelo conteúdo qualificado e encontrar a melhor forma de medir o sucesso da propaganda na internet segue na pauta das discussões. Mas a questão, como diz Ana Maria Nubie, vice-presidente da AgênciaClick Isobar, é se persistir nos velhos padrões vai dar certo. “Acreditamos que o paradigma antigo de mídias de massa está sucumbindo. O conceito de audiências massivas, anônimas e estáticas foi pilar da indústria publicitária durante as últimas cinco décadas. Contudo, os meios digitais apontam em outra direção – grandes audiências ativadas por mídias ultra-segmentadas, móveis e compartilhadas. São essas novas tecnologias que permitirão levar aos consumidores mensagens publicitárias contextualizadas, abertas, e, por isso mesmo, relevantes e engajadoras.”
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