Caos criativo, modo de usar
por Nizan Guanaes *
Bom dia, 2011.
Entramos na década em pleno caos criativo. As mídias sociais evoluíram e agora são só mídia. Todos viramos mídia. Tudo virou mídia. E mídia é um meio condutor. De conteúdo humano. O que é fantástico.
O Facebook divulgou que publicou 750 milhões de fotos sobre o último réveillon alimentado pelos seus mais de 500 milhões de usuários famintos conseguidos em menos de sete anos de funcionamento.
Repito: 750 milhões de fotos que antes iam para uma caixa velha ou uma gaveta agora estão na nuvem para quem quiser olhar.
Como um economista, um político, um publicitário, um artista, um historiador ou uma empresa vai conseguir processar esse compêndio infinito da vida privada, no início do século 21, é um bom problema deles, mas quanta riqueza produzida e registrada.
Ninguém sabe ao certo o futuro do Facebook, mas mesmo assim ele já foi avaliado em US$ 50 bilhões pelo mercado neste início de década. Seu fundador, Mark Zuckerberg, 26, homem de 2010 da revista Time, bilionário mais jovem da história, iniciou um processo de capitalização com o Goldman Sachs tão inovador quanto seu negócio principal.
O Facebook é a cara do hoje.
Seu segredo é o segredo da revolução em curso e que a publicidade conhece desde sempre: comunicação. Agora evoluída para conexão.
O Facebook é a cara do hoje porque é a nossa cara. Com suas conexões, permite-nos fazer algo de que sempre gostamos: mergulhar em vidas alheias. E algo que descobrimos adorar: expor as nossas vidas. Aliás, o grau de transparência de algumas pessoas na rede chega a constranger.
A tecnologia atual permite uma comunicação totalmente diferente de tudo o que conhecíamos.
Sim, essa evolução é natural e sempre aconteceu. Mas com essa velocidade?
O diário britânico Financial Times, um guia atual para os perplexos, outro dia comparou a evolução da indústria gráfica com a evolução dos leitores eletrônicos.
Foram décadas entre a publicação do primeiro livro e a publicação do primeiro índice alfabético de uma obra, uma utilidade fantástica.
Hoje, assim que Steve Jobs e sua equipe lançam uma nova maçã no mercado, milhares de empreendedores começam a criar e a lançar aplicativos para o novo gadget (sorry, mas alguém tem uma palavra melhor em português para gadget?).
Enquanto no século 15 precisava-se de décadas para um pequeno salto na indústria gráfica, hoje as revoluções são por minuto. A velocidade está na alma do novo século, e precisamos nos adequar a ela. Capacetes são bem-vindos.
O Napster, site criado para baixar músicas livremente, destruiu de forma fulminante o modelo de negócios da indústria fonográfica global, que poucos anos antes comemorava recordes de vendas.
No processo, varreu do mapa gigantes varejistas como Tower Records e Virgin, templos de consumo cultural no final do século passado, hoje ruínas mesmo com o boom do consumo de produtos culturais via web.
As veneráveis livrarias seguem o mesmo caminho, sitiadas pelo e-livro e pelo e-comércio. Que chegaram para mais do que tudo facilitar e muito a vida dos amantes de livros, é oportuno exclamar diante do eterno choro dos pessimistas/saudosistas.
Isso serve para lembrar que o criativo é naturalmente destrutivo.
A única forma de ter esse caos criativo como aliado é entrar no fluxo e inovar. A inovação é ao mesmo tempo mãe e filha da comunicação.
Como escrevi aqui no ano passado: se você pensa que sabe tudo, está obsoleto. Quem diz que sabe tudo sobre o seu próprio negócio está morto. É preciso inovar. Para fazer mais rápido, mais sustentável, mais barato, mais produtivo, melhor.
As ferramentas nunca foram tão propícias e acessíveis. A computação em nuvem oferece a pequenos empreendedores acesso a uma infraestrutura cibernética tão sofisticada quanto ela pode ser.
Aproveitem. Mergulhem. Publiquem. Alimentem. Processem. Lancem sementes. Colham respostas. Colham clientes. Colham amigos.
Empreender é um ato coletivo, e você nunca mais estará sozinho.
* O artigo foi publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo.
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