Jeff Gomez é o midas da narrativa transmídia. CEO da Starlight Runner Entertainment, já palestrou no Futures of Entertainment, prestigiada conferência do MIT, em Boston, e expandiu o universo ficcional de Avatar, Coca-Cola, Piratas do Caribe e Hot Wheels (Mattel) a diferentes plataformas de mídia: celular, videogame, romance, história em quadrinhos, filme, programa de TV...
Poderoso, certo? Mas extremamente simples e boa praça. Um artesão de ideias férteis (e lucrativas) com jeitão de menino apaixonado por RPG. Foi despojado de qualquer pompa que Jeff nos concedeu esta entrevista exclusiva, de carona com o programa Bastidores e com sua passagem pelo Brasil para uma série de palestras.
Chegou agora e não sabe o que é transmedia storytelling? Jeff explica; veja vídeo
Jeff fala sobre transmedia storytelling, recuperação da indústria fonográfica, engajamento nas mídias sociais (e como as marcas e grandes estúdios ainda não sabem tirar proveito do buzz) e sobre... você! Afinal são a sua participação e a sua história que vão turbinar este negócio.
Com a tecnologia 3D e as narrativas transmídia, a indústria cinematográfica vem se recuperando frente à pirataria. E a indústria fonográfica? Como o mercado da música pode sair da UTI e voltar a respirar?
Jeff Gomez: Temos assistido à indústria da música bem de perto e temos fortes interesses. Muitas gravadoras vieram até a Starlight Runner para saber mais sobre transmídia, mas elas não entendem muito bem ou não encontram motivos para pagar por isso. Não acreditamos que a indústria da música vá conseguir sobreviver sem fazer uso das multiplataformas de mídia. O jeito de se fazer isso é conectar o artista, no nível da gravadora, com o público, usando o mesmo conteúdo que já usam para o marketing do artista, mas também colocando o artista mais acessível ao público, construindo uma nova estrutura para que essa comunicação vá e volte.
As mídias sociais estão em sua infância"
“Engajar a audiência” é o termo do momento. Mas a audiência quer mais do que participar, quer criar a sua própria storytelling. Qual é o futuro da colaboração do público via mídias sociais?
As mídias sociais estão em sua infância. O que é legal nisso é o jeito com que as mensagens e a narrativa são comunicadas instantaneamente nos dois sentidos, entre dois indivíduos, mas também, no futuro, como as histórias vão integrar os pensamentos e contribuições de dezenas, centenas ou milhares de pessoas, que vão criar tapeçarias de narrativas juntamente com o contador de histórias para criar universos ficcionais. Isso vai ser muito legal de se assistir. Para mim, o que é interessante tecnologicamente é o Google Wave, porque está permitindo que se crie essa cooperação criativa.
A Fox não fez isso com Avatar, a Paramount não fez isso com o novo Star Trek (...) Alguém vai ter que começar a fazer isso, porque é isso que vai dar dinheiro"
Mas o buzz criado acaba pulverizado, disperso e pouco aproveitado do ponto de vista do negócio. Como é possível monetizar a participação do público?
Essa é uma grande preocupação minha: o fato de que os estúdios não tomam posse da conduta com que devem lidar com os fãs. Quem é dono do Youtube? Eu não sei, mas não é a Fox, certo? A 20th Century Fox é dona de Avatar, mas eles não criaram uma forma para que os fãs pudessem se expressar com esse tipo de conteúdo. Se isso for feito, essa plataforma pode ser convertida em dinheiro. Não será mais a menina gordinha (aquela que ensina maquiagem de Avatar no Youtube; veja) e seus 500 amigos; será cada tipo de fã de Avatar que virá a você, porque a plataforma correta vai estar sendo providenciada para que ele se comunique. Isso deve ser feito. A Fox não fez isso com Avatar, a Paramount não fez isso com o novo Star Trek, a Marvel não está fazendo isso com o novo Wolverine, com o Capitão América, com os novos filmes de super-heróis. Alguém vai ter que começar a fazer isso, porque é isso que vai dar dinheiro.
Acredito que a ficção seja apenas uma arena em que você ensaia para a realidade"
Transmídia é só para ficção? Como se constrói uma narrativa transmídia para um reality show, por exemplo?
Não é só para ficção. Sim, a noção de história e ficção foi muito do que falei hoje (saiba mais sobre a palestra de Jeff no Bastidores), mas acredito que a ficção seja apenas uma arena em que você ensaia para a realidade. Também acredito que a transmídia vá atingir um poder verdadeiro e um verdadeiro impacto quando sairmos da ficção e entrarmos na realidade. Escrevemos as notícias e fazemos delas entretenimento e engajamento. Deve haver um jeito de se organizar a narrativa de não-ficção, realidade ou até mesmo educação. Não acredito que os adolescentes vão deixar de engravidar porque há um panfleto em seus celulares. Mas se há a história de uma adolescente que é como elas, que fala para elas, que serve de identificação para elas, que está se esforçando nesse assunto e que talvez faça escolhas que o público não deve ter pensado, então elas podem pensar: "Essa é uma escolha interessante, posso fazer essa escolha". E aí talvez elas não engravidem.
Se você fosse um avatar, o que faria para salvar a nossa Pandora?
Se eu estivesse em Avatar, eu me relacionaria com as pessoas do filmes, porque um dos elementos mais poderosos é a habilidade que temos de “ver” uns aos outros. Eu adoraria ter o poder de fazer as outras pessoas “verem”. Ver sem preconceito e sem julgamento. Apenas ver o que está lá para que tomem decisões mais pensadas sobre a vida. É esse o poder que desejo. De vez em quando eu faço isso.
Se você pudesse escolher uma coisa, qualquer coisa, em uma vending machine, o que escolheria? Coca-Cola não é uma opção. ;)
Tenho uma menina pequenina que nunca pega o que quer na máquina de venda automática. Tem sempre a imagem e ela não pega o que quer. Gostaria de uma máquina em que pudesse escolher o brinquedo que quisesse; então eu daria para a minha pequena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário