Quando um avião da US Airways aterrissou no rio Hudson, em Nova York, em janeiro deste ano, a primeira foto foi divulgada no Twitter. Em junho, os usuários do Twitter já estavam lamentando a morte de Michael Jackson quando os grandes veículos de comunicação a reportaram. E este mês, enquanto boa parte do mundo acompanhava com fascínio as imagens de um balão que estava supostamente carregando em voo um menino de seis anos, cada reviravolta da história foi divulgada e copiada no Twitter instantaneamente, deixando quase todos os demais assuntos de que o site costuma tratar à sombra.
Quando eventos importantes se desenrolam, Twitter, Facebook e serviços semelhantes passaram a exercer para os Estados Unidos a função de uma espécie local de cafezinho virtual, no qual as pessoas se encontram e podem trocar ideias. As informações são transmitidas rapidamente, muitas vezes antes que a mídia de massa as veicule, e os textos e links publicados de forma instantânea se tornam um histórico imediato das preocupações coletivas norte-americanas.
Não admira, portanto, que especialistas e investidores estejam salivando quanto à perspectiva de uma forma efetiva de conduzir buscas nessas fontes de informações. O Twitter conta, evidentemente, com um serviço próprio de buscas, mas outros sites, como o OneRiot, Collecta e Topsy, também lutam por uma posição como o Google das buscas em tempo real.
Google e Microsoft não querem ficar para trás nessa disputa, e por isso na semana passada as duas empresas anunciaram, separadamente, acordos para incluir posts do Twitter em seus resultados de busca.
Apesar de todo esse ruído, no entanto, resta uma questão ainda não respondida: com que facilidade os serviços de busca em tempo real poderão ser convertidos em fontes de receita?
Ninguém duvida de que ajudar os usuários a encontrar conteúdo atualizado em tempo real na web seja um serviço valioso. Mas existem muitos outros serviços valiosos na web - sites de conteúdo, serviços de webmail e redes sociais- que enfrentam dificuldades para encontrar modelos de negócios efetivos.
Os analistas afirmam que o Twitter pode encontrar outras maneiras que não as buscas para obter lucros com o imenso volume de dados que vem fluindo pelo seu sistema. Mas Evan Williams, o presidente-executivo da empresa, disse que a receita "não era o foco" de seus acordos com o Google e a Microsoft.
Além disso, nenhuma das duas empresas planeja vincular anúncios às buscas realizadas no Twitter, ao menos por enquanto, se bem que exista a possibilidade de que o façam mais tarde. E o Facebook anunciou na semana passada que não havia recebido pagamento adicional por um acordo separado que assinou com a Microsoft para abrir algumas das atualizações de seus usuários a buscas pelo Bing, o serviço de buscas da companhia.
"Não temos ideia de quanto se pode faturar com buscas em tempo real", disse Danny Sullivan, veterano analista do setor de buscas e editor do "Search Engine Land", um blog que cobre as atividades desse setor.
As buscas tradicionais na web são uma fonte imensa de receita, e por dois motivos: primeiro, sem o Google, Yahoo, Bing ou Ask.com, a web seria apenas uma pilha indecifrável de peças desconexas. Os serviços de buscas são tão vitais que, computado apenas o mercado dos Estados Unidos, são usados cerca de 450 milhões de vezes ao dia, de acordo com a comScore, uma empresa que mede o tráfego de internet.
Segundo, e igualmente importante, a publicidade vinculada a buscas é provavelmente a forma de marketing mais efetiva que já foi desenvolvida. Porque as buscas telegrafam com precisão as intenções de um usuário, elas tornam possível combinar publicidade e consumidores de maneira perfeita: o anúncio exato e o consumidor exato, no momento exato. Como resultado, os anunciantes se dispõem a pagar generosamente para divulgar seus produtos e serviços diante de compradores que digitam buscas como "melhores preços para iPhone" ou "hotéis no Havaí", quando usam o Google.
Apesar dos bilhões investidos em tecnologias que rastreiam o comportamento dos usuários da web de maneira a permitir que os anunciantes identifiquem seus interesses, nenhuma outra forma de publicidade online -ou, aliás, de publicidade em qualquer outra mídia- se aproximou da efetividade oferecida pelos anúncios vinculados a buscas.
Se as buscas em tempo real pretendem propiciar magia semelhante, seria necessário um grande volume de buscas e a mesma capacidade de vincular os interesses dos usuários a anúncios. Sullivan disse que espera que o número de consultas em tempo real seja menor e que o conteúdo das buscas seja mais especializado do que no caso das buscas genéricas realizadas na web.
Essa maior especialização talvez dificulte a conversão das buscas em dinheiro. As buscas em tempo real ainda são novidade, e é difícil obter informações sobre elas. Mas verificações recentes demonstram que apenas uma pequena fração das transações em tempo real são claramente comerciais. Em uma manhã recente, por exemplo, apenas dois dos tópicos mais discutidos no Twitter -Halloween e o MacBook- eram comerciais.
Os empresários que operam no setor de buscas em tempo real contestam essa interpretação.
Gerry Campbell, o presidente-executivo da Collecta, declarou que até 20% das buscas que percorrem seu sistema podem ser facilmente transformadas em fontes de receita. Este mês, por exemplo, a Collecta registrou uma alta nas buscas pelo Viper, um novo aplicativo para o iPhone que pode dar partida em carro a distância.
Outros dizem que existem muitos exemplos de buscas que poderiam ser vinculadas a anúncios: uma busca de mensagens sobre as condições de neve pode servir como oportunidade de publicidade para estações de esqui; uma busca sobre cobertura inadequada de telefonia móvel pode atrair anúncios de uma operadora concorrente; buscas sobre restaurantes podem ser vinculadas a anúncios que mostram a disponibilidade atualizada de mesas na lanchonete local.
"É evidente que os usuários estão expondo suas intenções, e isso oferece a oportunidade de veicular publicidade vinculada", disse Campbell.
Sean Suchter, gerente geral de tecnologia de buscas na Microsoft, disse que esperava que as buscas em tempo real viessem a propiciar lucros no futuro. Mas acrescentou que, ao menos por enquanto, "o objetivo é definitivamente o de propiciar maior valor para os usuários".
O Google, de maneira semelhante, afirma que as buscas em tempo real são valiosas, ainda que não necessariamente porque gerarão receita publicitária semelhante à das buscas convencionais.
"Não sabemos o bastante sobre que tipo de buscas as pessoas fariam em tempo real, e isso nos impede de determinar até que ponto podem ser monetizadas", disse Marissa Mayer, vice-presidente de produtos de busca e experiência do usuário no Google.
O Google quer os dados do Twitter primordialmente porque sua missão é ser abrangente. O objetivo da empresa é organizar toda a informação do mundo, incluindo as fugazes conversações em tempo real da web. "Sabemos que a abrangência tem benefícios comerciais para o nosso negócio", ela disse. Em outras palavras, a abrangência faz com que as pessoas continuem conduzindo buscas no Google.
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